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A poesia em O pequeno príncipe

O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é um livro teoricamente escrito para crianças, mas a sua riqueza de poesia e significados implícitos o faz ser um livro muito apreciado também por adultos. Talvez algumas de suas mensagens sejam melhor compreendidas de fato por leitores mais maduros, pois ela fala, dentre outras coisas, de amor, de vínculos e de despedida; sensações que nossas crianças ainda não conhecem por completo, ou pelo menos ainda não têm consciência delas.

Minha teoria é que O pequeno príncipe é, na verdade, uma história de amor que tem como pano de fundo uma amizade. A amizade é protagonizada pelo o príncipe e o aviador, enquanto o amor diz respeito a ele e sua florzinha. Para tornar clara as definições, eu falo de amor no sentido romântico mesmo, apesar de reconhecer que o amor também está presente na amizade desenvolvida com o aviador perdido. A flor, por sua vez, eu interpreto como sendo o símbolo de algum amor perdido, o que pode ser entendido em frases como essa: “Flores são tão complicadas. Mas eu era muito jovem para saber como amá-la”.

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Durante todo o livro, nós vemos a angústia do principezinho com relação à flor que ele deixou para trás e assim o fez por não conseguir lidar com a amada e lamenta: “eu nunca deveria ter fugido dela. Eu deveria ter imaginado toda a sua ternura por debaixo de suas patéticas estratégias”. É perceptível a conexão de frases como essa com relacionamentos conturbados ou desencontros amorosos. E é comovente ver seu amor permanecer apesar de toda a distância e todas as dores que ela pode ter lhe causado.

“Se tu me cativas, nós precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”

Além disso, as reflexões sobre afeto e vínculo nos faz refletir sobre nossas vidas e sobre as pessoas que nos cercam. A amizade do príncipe e o aviador é elaborada com cuidado e não cai em clichês comuns. Na verdade, acredito que alguns clichês atuais surgiram do livro, o que mostra também um pouco de sua originalidade e de sua influência nos livros infantis das futuras gerações. Afinal, é uma das primeiras vezes que vemos uma amizade entre um homem adulto e uma criança. Essa criança – peculiar, diga-se – faz grandes ensinamentos ao amigo, mas ao mesmo tempo ele é um ser que não cai no senso comum da criança que, dada a sua inocência, tudo sabe, mas, pelo contrário, é humanizado ao sentir também muita angústia e se fazer muitos questionamentos.

Frases como: “se você ama uma flor que mora em uma estrela, é adorável olhar para o céu durante a noite. Todas as estrelas estão floridas”, mostra a sensibilidade da obra ao falar de vínculos e de pessoas que marcam nossas vidas. E, ao terminar, coloca uma outra reflexão, dessa vez mais triste, e que toca aos adultos como a ninguém, sobre o luto e a despedida:

“E quando você superar sua dor (e todo mundo acaba superando) ficará feliz por ter me conhecido.”

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Eva Maia Malta

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