Fui votar discreta, de blusa branca e um singelo adesivo de Lula e Haddad no peito esquerdo. Logo na entrada do colégio de votação, um homenzarrão de voz grossa, aquelas vozes de macho viking, sabe?, passou por mim falando ao telefone:
Ele passou na minha frente com passos firmes e decididos de quem acha que vai mudar alguma coisa e esperneia quando descobre que não vai mudar porra nenhuma – mas a voz é grossa. Ele continua:
Depois de 50 minutos na fila, votei. Tempo bem mais curto do que as 2 horas e 40 minutos do primeiro turno. Andei um pouco pela UNICAMP para mostrar a minha mãe, que está de turista, o lugar em que estudei.
Vi algumas pessoas de amarelo e senti um misto de antipatia e medo delas. Vi algumas pessoas de vermelho e busquei contato visual para enviar mentalmente o meu “tamu junto, guerreirx”.
Pela tarde, fui a um churrasco e, ao acompanhar a notícia de que os criminosos da Polícia Rodoviária Federal tentavam atrapalhar com blitzes pessoas – especialmente pobre, diga-se – que iriam votar, tomei um chevette para me acalmar e passar o tempo.
Começou a apuração e fiquei feliz e aliviada quando Lula virou, mais cedo do que imaginávamos, aos 67% das urnas apuradas. A distância dos votos foi pequena mas, a partir daí, eu já estava em paz. Meu país não viraria Bolsonaristão.
Fui para casa de carona; buzinávamos e fazíamos o L (fizemos mesmo!) para as pessoas sorridentes que comemoravam na rua. Sabia, dentro de mim, que a nossa guerra contra o fascismo não havia acabado, mas agora poderíamos lutar sem ter que lidar com um presidente arruaceiro; ele será agora um arruaceiro sem caneta e sigilo de 100 anos na mão.
A melodia do samba “Tô voltando” ficou tocando em minha cabeça até eu conseguir dormir. “Tô voltando” pode simbolizar a volta do Lula. Mas, na verdade, quando a ouço, eu imagino o povo, com toda sua humildade e amor às coisas simples, dançando unido e feliz por saber que vai ter de volta um governo que se importa com eles.
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