Senha de número 255 era a imagem que aparecia no painel que todos acabavam olhando mais cedo ou mais tarde esperando sua hora de ser chamado. A atenção dada ao painel só era dividida com a Ana Maria Braga que aparecia na TV ao lado. As pessoas acompanhadas conversavam baixinho com seus parceiros, enquanto as outras olhavam a Ana Maria Braga falar com o olhar distante, ou mexiam em seus celulares.
Até que uma voz de homem começou a chamar atenção. Primeiro ela estava sendo abafada pelo bate-papo das pessoas ali, mas, à medida que um se silenciava, suas palavras se faziam mais presente. Outra voz surgiu, dessa vez mais grossa e nervosa. Aparentemente uma discussão havia começado bem perto dali. As cabeças começaram a balançar para um lado e para o outro procurando a fonte da confusão. “Será que é em algum quarto?” – perguntavam-se.
As vozes pararam e as pessoas voltaram a conversar aos poucos. Mas o corte foi mais abrupto quando outra confusão começou, dessa vez o número de pessoas parecia maior, podiam perceber vozes de mulheres. “O que será isso?” – murmurou uma mulher idosa. “O quê?” – perguntou completamente alheio seu marido que, dada a audição prejudicada, não escutava a balbúrdia. A mãe de uma menininha adolescente trocava olhares intrigados com a mãe de um bebê, que respondia procurando saber de onde vinha o ruído para garantir que também não estava entendendo.
Até que uma risada elucidou o mistério. No fundo da sala de espera, com a cabeça baixa, e os cotovelos apoiados no joelho, olhava para o celular um homem magro que neste momento dava gaitadas, completamente indiferente ao fato de que o barulho que vinha do seu celular estava chamando a atenção dos seus colegas de espera. A mãe da menina adolescente esclareceu: “deve ser vídeo de Whatsapp”. “Sim, deve ser”. E o homem portador do celular ria se divertindo sozinho.
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