Categories: Crônicas originais

Reflexões de um desesperado

Eles me disseram para ter esperanças. O problema é que nessa altura da minha vida já não consigo ver no Ano-Novo, no Natal, no meu aniversário, nada mais que uma data qualquer. Tento olhar para os fogos de réveillon e ver neles o símbolo de uma nova vida, mas não dá.

E o que importa fazer mais um ano de vida? Eu sei, e acho que todo mundo sabe também, que não muda nada. Minha teoria é que as pessoas comemoram aniversário, não para comemorar ano de vida coisa nenhuma, mas para tentar se convencer de que está valendo a pena.

As pessoas ouvem Roberto Carlos e abrem a boca com orgulho para dizer que se chorou ou se sorriu, o importante é que emoções viveu. Será que viveu mesmo? É uma pergunta que faço com sinceridade. Será que as emoções desse povo não é apenas uma vida repleta desses Anos-novos e desses aniversários?

Perdoem-me. Ando meio ranzinza e impaciente ultimamente. Talvez eu já esteja velho demais para essas coisas. Aliás, seria injusto atribuir a todos os velhos características tão minhas, tão melancólicas. E não quero que vocês, meus amigos velhos, deixem de ter esperança pelo que digo. Comemorem sim! Comemorem seus aniversários. Creiam que vale a pena!

Quanto tempo já perdi por ver no meu futuro o meu ideal de vida, o tempo em que tudo aconteceria, em que eu seria feliz. Por quê? O que teria no meu futuro que me completaria tão bem? Nunca soube responder e, pela falta de resposta, perdi a fé. A verdade é que o futuro chegou e não sei se já aconteceu. Aconteceu a minha felicidade e não me dei conta? Isso me angustia.

Eles me disseram para ter esperanças, afinal o amor está aí! – dizia fulano – o amor nos dá esperança. Mas como se até no amor eu não vejo nada mais que a desigualdade? Talvez eu esteja errado, talvez a vida tenha me dado apenas maus exemplos, mas o que sempre vi em duas pessoas que dizem que se amam sempre foi um amando mais que o outro. É fácil ver quem ama mais, esse contrabalanço nos revela – por carregar o peso, é sempre o mais prostrado.

Eu sei que já espero minha hora com meu coração cansado, mas não vou jogar nas costas de vocês meu desânimo. A verdade é que tenho medo. Medo de perder mais coisas. Já perdi meu vigor, meu trabalho e perdi pessoas. É difícil ter esperança quando parece que chegou o momento da sua vida em que você só tem o que perder. É aí que você percebe que passou; o futuro que você tanto esperou passou.

Olá, obrigada por ter chegado até aqui. Nesse espaço, eu costumo dilvulgar crônicas originais por mim escritas. Portanto, se você quiser continuar acompanhando o meu trabalho, siga-me nas redes sociais. Um abraço!

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Eva Maia Malta

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