O senhorzinho me cumprimentou com simpatia quando entrei em seu carro. “Ginásio do Taquaral?” – ele perguntou, querendo confirmar o meu destino; eu disse que sim. Antes de dar a partida, algo o inquietava. “Ele tá mandando eu ir pela Guilherme Campos, é isso mesmo?”. Eu respondi com o meu habitual “pode seguir o GPS”.
Ele seguiu, mas não estava em paz. Andava a uma velocidade que me parecia uns 5 km/h, mexia na tela do celular, aumentava e diminuía o zoom no trajeto indicado e murmurava coisas para si mesmo. Nós nem tínhamos conseguido sair do meu bairro, quando ele comentou comigo:
“Ele tá mandando ir pela Guilherme Campos, mas acho que pelo outro lado é mais perto. O que você acha?”
“Pode seguir o caminho do GPS”, respondi mais uma vez.
Ele: “sim, mas qual é o melhor?”
“Não sei”, foi minha humilde resposta, quando, na verdade, o que eu queria dizer era: “ô, meu senhor, nesse tempo que você tá aí resolvendo qual é o melhor caminho, a gente já teria chegado lá”.
Depois de toda essa análise, ele decidiu seguir o caminho que achava melhor e me mostrou, todo orgulhoso, o indicador de kilômetros que mostrava a redução na distância que o trajeto escolhido por ele nos traria. Só então, ele conseguiu acelerar o veículo.
No percurso, o senhorzinho perguntou no que eu trabalhava e, diante da resposta, contou toda a história da sua juventude, de como os computadores eram grandes e lentos naquela época, de como ele ganhou dinheiro com isso e de como depois ele acabou mudando de carreira. Ele não parecia muito interessado em meus comentários a respeito do assunto e disparou a falar.
Eu vislumbrei que estávamos chegando ao meu destino, mas, antes que pudesse me permitir um alívio por isso, eu notei que o carro tinha voltado aos 5 km/h. Aparentemente, o senhorzinho queria ter tempo para concluir a conversa.
Ao chegar na entrada do ginásio, a última fala que ouvi dele foi “meu salário era de 16 mil reais e hoje, aposentado, caiu para 8 mil” e riu com uma risada de deboche que só os de bem com a vida conseguem dar.