A imortalidade, livro de Milan Kundera, aborda temas primordialmente filosóficos, como solidão, existencialismo e, obviamente, a angústia do homem com relação a sua condição de mortal. A palavra imortalidade que dá título ao livro não se trata da imortalidade literal e, por vezes, de interpretação religiosa de uma vida eterna ou posterior a essa. Mas sim de uma interpretação filosófica que põe à luz a busca incessante, e às vezes inconsciente, do homem para driblar sua efemeridade. O livro é dividido em seis partes, mas eu irei apresentá-lo aqui em três que eu considero agrupar seus principais temas.
Na primeira delas, o assunto principal é a individualidade e o nosso desejo de sermos reconhecidos por ela. Através de sua personagem principal, se é que podemos chamá-la assim, Kundera explora o indivíduo dentro do seu meio e as motivações por trás de suas decisões. Essa lupa o leva a questionar coisas como o casamento, a tentativa de se sobressair no meio da multidão, a solidão e o amor. Kundera mostra como cada gesto revela, não nossa originalidade, como pensamos, mas o oposto disso, apenas a imitação das pessoas que estão ao nosso redor, gerando um ciclo vicioso e infinito.
Na segunda parte, ele entra mais explicitamente no tema da imortalidade e para isso faz algo inusitado que é transformar em seu personagem ninguém menos que Johann Goethe, o escritor alemão. Aqui Kundera faz algo interessante que é colocar à prova uma concepção comum que nós temos: a de que os artistas são os verdadeiros imortais.
“Assim, mesmo se for possível moldar a imortalidade, moldá-la por antecipação, manipulá-la, ela nunca acontecerá conforme o planejado”
Ele dá uma definição muito precisa sobre a imortalidade e a divide em dois tipos: a pequena e a grande. Deixarei que vocês leiam o livro para descobrir a diferença entre elas, mas adianto que é interessante perceber como nós tentamos ser imortais à nossa maneira, buscando como podemos a pequena imortalidade. Goethe, assim como outros grandes artistas, alcançou a grande imortalidade, mas segundo o ponto de vista de Kundera isso não é tão satisfatório como podemos pensar. Aliás, segundo ele, perceber que nos tornamos imortais pode ser mais assustador que a certeza da nossa finitude.
A terceira parte é dividida em vários outros pequenos capítulos. Neles, o autor se torna mais politizado, não no sentido de defender uma ideologia ou outra, mas esmiuçando as motivações mesquinhas que pode haver por trás de atitudes aparentemente boas e como a política serve de perfeita aparência para uma oculta busca pela imortalidade. Até o amor não escapa de sua investigação e as motivações para ele podem ser tristemente egoístas.
“Não se tratava de amor. Tratava-se de imortalidade”
A imortalidade é um livro difícil de ser lido. Não intelectualmente falando, pois todos são capazes de entender o que ali está escrito. Sua dificuldade está no estado de espírito em que ficamos durante a leitura. Kundera não nos poupa de nada e de forma seca nos oferece doses grandes de realidade que são muito pesadas para serem digeridas de uma vez. Ele aborda temas espinhosos; sensos comuns aos quais por vezes nos agarramos para tornar a vida tolerável. Temas que consideramos sagrados por representar nossa nobreza e o valor de nossas vidas, como o amor, a família e a inteligência, são revirados por ele, que mostra que por trás desses atos nobres há pessoas desesperadas para serem lembradas depois de mortas. É triste nos reconhecer em suas palavras e ver quão pequenos nós somos.
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