Anna Karenina teve o destino que mereceu?

Conversando sobre as adúlteras da literatura, um amigo meu me perguntou qual tinha sido o final de Anna Karenina, de Leon Tolstói, sem saber ele ainda o final clássico que marcou a literatura. Eu lhe respondi e sua reação foi um assustado par de olhos, surpreso por final tão trágico. Em seguida, eu tentei, sem sucesso, resumir o enredo da história, para tentar explicar o que a levou a tal atitude. O resultado da minha tentativa foi apenas fazer parecer que Anna era uma pessoa frívola e egocêntrica.

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Talvez levado pela imagem negativa que eu dei a entender da personagem, a pergunta que ele me faz em seguida é curiosa: “Você acha ela teve o final que mereceu?”. Fui pega desprevenida, pois, ao ler Anna Karenina, em nenhum momento me perguntei o que ela merecia ou deixava de merecer, independente da opinião que eu poderia ter sobre a sua personalidade.

Essa pergunta me levou a duas reflexões. A primeira delas era referente à construção da personagem no decorrer da narrativa. Quem leu Anna Karenina sabe que o humor da personagem varia muito à medida dos acontecimentos e que sua oscilação acaba também implicando em outras consequências até chegar à decisão final. Tolstoi encaminha a vida de todos os seus personagens baseando-se em duas variáveis: os acontecimentos em suas vidas e a reação psicológica que esses acontecimentos geram. E, além disso, existe uma constante, que foi determinada no momento da criação, que é a personalidade de cada um deles. Anna, por exemplo, é colocada como uma mulher passional, nem sempre compreensiva, mas com uma bondade que a maltrata com a culpa. Portanto, concluo que o destino dela e de todos os outros foi mais determinado pelas combinação dessas variáveis com a sua personalidade do que por uma determinação arbitrária do autor.

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A segunda reflexão que faço é sobre o objetivo da arte. O prefácio do livro de Tolstoi diz que ele se baseou em uma história verídica sobre a amante de um amigo que teve o mesmo fim que Anna. A minha opinião é que seu romance, na verdade, foi movido por uma curiosidade, não sobre se ela recebeu o que mereceu, mas sobre o que a levou a tomar uma atitude tão drástica. Por que naquele lugar? Por que daquele jeito?

E se Tolstoi não julga sua protagonista, também não o faz com aqueles que a cercam. Ele trata dos outros personagens igualmente com bastante cuidado, como seu amante e, principalmente, seu marido. Esse, por exemplo, é um dos personagens melhor construídos e através da transformação da sua vida, outrora equilibrada e previsível, em um caos que ele não consegue controlar, acompanhamos com fascínio a percepção desse homem para coisas que até então lhe eram desconhecidas.

Quando meu amigo me fez a pergunta, meu pensamento foi (com todo respeito a quem gosta do gênero) que o romance não era como uma novela de televisão, em que o vilão faz maldades durante a história para receber um final ruim que satisfaça a ira do público. A arte da literatura tem um fim menos julgador, cabendo a ela apenas a colocação das coisas como são e a visão do autor sobre elas. O que me leva a concluir que o objetivo de Tolstoi em Anna Karenina é compreender e não condenar.

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