Ao ler Otelo, de Shakespeare, me deparo com uma realidade: como o ser humano é praticamente o mesmo!
Shakespeare e sua obras são do século 16/17, ou seja, mais de 400 anos se passaram desde que suas obras foram escritas.
Na última semana, eu li Otelo: o mouro de Veneza… Fiquei impressionada com uma coisa: quão atual é sua história!
Chega a ser engraçado quanto das emoções dos personagens são basicamente os mesmos dos nossos, e suas dinâmicas, seus preconceitos, suas formas de se relacionar…
Desdêmona, por exemplo, a ingênua esposa de Otelo, pergunta a sua ama Emília se é mesmo possível que uma esposa traia seu marido e diz:
“Penso que não existe mulher assim.”
A que Emília responde:
“Uma não, uma dúzia sim; e muitas mais […] no caso de a oportunidade aparecer.”
Não, meus queridos e queridas; o adultério não nasceu com a Globo.
Do outro lado temos Otelo e o pai de Dêsdemona como símbolos do machismo simplório, aquele que se assombra com a descoberta do desejo feminino. Céus! E pensar que esse assombro ainda é tão dos nossos dias…
E, por fim, não poderia deixar de falar de Iago. Ah! Iago, Iago… Reunião de nossos sentimentos mais vis: inveja, ódio, rancor… racismo, machismo e contando…
Tudo isso me faz lembrar Belchior que, debaixo de sua melancolia, escreveu:
“Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais”
Caro, Belchior, somos, de fato, os mesmos. E vivemos não só como nossos pais, mas como uma ancestralidade muito mais distante.